quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Tolerância e passividade - por Douglas Fersan




Muita gente confunde o ato de ser tolerante com ser passivo. Ledo engano.
Ser passivo é assistir as coisas acontecerem e não descruzar os braços. É mostrar-se indiferente diante da dor, da injustiça, da mentira e de tantas outras mazelas éticas e morais que infectam o planeta.
Ser passivo deveria ser crime, pois sabe-se muito bem que a omissão é tão nociva quanto certas atitudes. Calar-se frente uma injustiça é contribuir para que ela continue acontecendo, e isso, de certa forma, tornou-se praxe na sociedade contemporânea. Diz um ditado que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, assim, a quem acredita nessa máxima popular, resta fazer vistas grossas diante de hematomas sociais e ignorar que leis como a “Maria da Penha” tiveram que ser criadas para estancar uma ferida que sangra silenciosa, graças à passividade e à omissão.

Ser tolerante é diferente. É reconhecer o outro, respeitando as diversidades e o direto delas existirem. Ser tolerante não é uma qualidade que deve ser ressaltada naqueles que a tem. Ser tolerante é um dever de todos, pois de todos é, ou deveria ser, o compromisso de construir um mundo mais habitável e ético.

Respeitar a diversidade é abrir a mente para aprender coisas novas, e isso não significa abrir mão das próprias crenças e convicções, mas sim estar preparado para tornar-se um ser intelectualmente melhor, mas nem todos estão preparados para a aventura de sair de sua pequena e ridícula redoma cultural. É mais confortável recolher-se à sua concha e tal qual uma ostra, observar apenas o pequeno universo que seus míopes olhos enxergam, e despejando uma cachoeira de críticas sobre aquilo que não se compreende.
A tolerância deve abranger todos os níveis: social, sexual, racial, religioso, ideológico, e não apenas aqueles setores que mais convém à particularidade de cada um. Essa tolerância é hipócrita. Ser tolerante é, acima de tudo, ser sábio.

Douglas Fersan
Sociólogo, historiador e educador