quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Tolerância e passividade - por Douglas Fersan




Muita gente confunde o ato de ser tolerante com ser passivo. Ledo engano.
Ser passivo é assistir as coisas acontecerem e não descruzar os braços. É mostrar-se indiferente diante da dor, da injustiça, da mentira e de tantas outras mazelas éticas e morais que infectam o planeta.
Ser passivo deveria ser crime, pois sabe-se muito bem que a omissão é tão nociva quanto certas atitudes. Calar-se frente uma injustiça é contribuir para que ela continue acontecendo, e isso, de certa forma, tornou-se praxe na sociedade contemporânea. Diz um ditado que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, assim, a quem acredita nessa máxima popular, resta fazer vistas grossas diante de hematomas sociais e ignorar que leis como a “Maria da Penha” tiveram que ser criadas para estancar uma ferida que sangra silenciosa, graças à passividade e à omissão.

Ser tolerante é diferente. É reconhecer o outro, respeitando as diversidades e o direto delas existirem. Ser tolerante não é uma qualidade que deve ser ressaltada naqueles que a tem. Ser tolerante é um dever de todos, pois de todos é, ou deveria ser, o compromisso de construir um mundo mais habitável e ético.

Respeitar a diversidade é abrir a mente para aprender coisas novas, e isso não significa abrir mão das próprias crenças e convicções, mas sim estar preparado para tornar-se um ser intelectualmente melhor, mas nem todos estão preparados para a aventura de sair de sua pequena e ridícula redoma cultural. É mais confortável recolher-se à sua concha e tal qual uma ostra, observar apenas o pequeno universo que seus míopes olhos enxergam, e despejando uma cachoeira de críticas sobre aquilo que não se compreende.
A tolerância deve abranger todos os níveis: social, sexual, racial, religioso, ideológico, e não apenas aqueles setores que mais convém à particularidade de cada um. Essa tolerância é hipócrita. Ser tolerante é, acima de tudo, ser sábio.

Douglas Fersan
Sociólogo, historiador e educador

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Crítica ao livro "O Caderno de David", de Daniel Caldeira - por Douglas Fersan



Conheci o Daniel há bastante tempo, nem sei dizer exatamente quanto. Lembro quando entrei naquela sala de aula pela primeira vez e, com meu jeito meio rabugento de ser, me apresentei àquela turma de sexta série. Lembro perfeitamente do olhar meio assustado do Daniel me analisando e talvez pensando: “taí um professor chato”.
Acredito que consegui mudar essa primeira impressão, pois não demorou muito para que vários alunos daquela classe deixassem de ser alunos para se tornar meus amigos, embora a diferença de idade fosse grande. Lembro de dezenas de alunos que adquiriram uma importância grande em minha vida, sendo até hoje meus amigos, mas não vou citar nenhum, pois o assunto é o Daniel Caldeira, e seria injusto se esquecesse de algum.
Logo percebi que o Daniel era alguém especial. Alguém que nasceu para brilhar, pois era dono de uma personalidade inquieta e crítica: não era daqueles adolescentes que aceitam o mundo ao seu redor sem contestá-lo, como também não era do tipo que sonhava mudar o mundo por pura rebeldia. Tinha os pés no chão, além de maturidade, honestidade e caráter muito além de seu tempo e espaço. É com muito orgulho que me atrevo (e é um atrevimento mesmo) a dizer que contribuí, ainda que de forma mínima para a transformação do pequeno Daniel em um grande Daniel: homem de bem, talentoso e de bom caráter.
É com mais orgulho ainda que recebi, um belo dia, em minha casa, a visita do Daniel, já homem feito, com seu notebook embaixo do braço, dizendo-se empolgado com uma nova idéia.
O domínio da palavra escrita – a ponto de emocionar seus professores – sempre foi um talento do Daniel, mas dessa vez ele tinha um projeto mais ousado, mais abusado até, arrisco dizer. Foi com empolgação que ele mostrou a mim e minha esposa Denise as primeiras páginas de um livro que estava começando a escrever, intitulado “O caderno de David”. Não era um livro qualquer, era um livro já destinado ao sucesso. E o sucesso foi comprovado em seu lançamento, no dia 09 de setembro de 2010, na livraria Nobel, no shopping Frei Caneca, em São Paulo.
Por que tive certeza que já era um livro destinado ao sucesso?
Em primeiro lugar porque era escrito pelo Daniel. Depois, porque tinha conteúdo, intenção e ação.
Não se trata de um livro destinado apenas ao público GLS, embora esse seja o tema central. Trata-se de um convite à reflexão sobre temas como a descoberta interior, a luta pelo reconhecimento da dignidade, os preconceitos, os pré-conceitos, a homofobia e a busca pela felicidade – nem sempre conquistada. É um importante trabalho no sentido de derrubar o estigma do homossexual como uma figura ávida por sexo o tempo todo, promíscua e esdrúxula. Quem ler o livro certamente não será mais o mesmo. A viseira do preconceito dará lugar à reavaliação de conceitos.
A leitura leve, porém consistente e prazerosa, cativa o leitor da primeira à última página e tem o poder de abrir a mente e aprimorar o espírito, embora, com certeza não seja essa a pretensão de Daniel, que tem entre suas tantas qualidades, a humildade.
Raramente indico livros em meus blogs ou matérias publicadas por aí afora, mas acredito que obras como “O Caderno de David” merecem todo o crédito, pois não se trata de simples entretenimento, é um livro que veio para abalar estruturas truculentas e transformar corações. Segue abaixo uma pequena resenha do livro e o link do blog de seu autor, o qual, embora já seja um Mestre, ainda faço questão de chamar de “aluno”, pois essa palavra, oriunda do latim, significa “filho adotivo” ou “aquele que fazemos crescer” (e não “sem luz”, como muitos dizem por aí).







O Caderno de David

Aos 23 anos David morre vítima de um câncer. Deixa aos cuidados da mãe um caderno, com o intuito de ajudar o companheiro a aceitar sua sexualidade. Nele, há pensamentos que discorrem assuntos como homossexualismo, família, religiosidade e amor ao próximo. Léo, ao perder o companheiro, sente-se frágil. É descoberto pela família e humilhado em praça pública. Sai da cidade deixando filhos e emprego. Um ano depois, um grupo de jornalistas descobre uma poesia escrita por ele, destinada a David. Imediatamente pede para que ele retorne, enfrentando a revolta da família. Léo é desafiado a escrever sua própria história. Mas para isso será preciso enfrentar seus próprios preconceitos.

“...tenho um coração colorido...
Que me perdoem os que vivem no mundo preto e branco...”
Daniel Caldeira


Link para o blog do autor: http://ocadernodedavid.blogspot.com/

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A escola da impunidade - por Douglas Fersan



Perdeu-se no tempo quem acredita na existência de uma escola destinada a ensinar somente conceitos científicos e normas gramaticais. Não existe mais aquele espaço, tanto físico quanto intelectual, onde os jovens, sentados em suas desconfortáveis carteiras, ouviam atentamente um mestre despejando seu conhecimento para que depois o reproduzissem de forma escrita ou oral. Essa escola não existe mais e, embora os saudosistas vivam lamentando o seu desaparecimento na poeira do tempo, ela é coisa do passado, gostem ou não.
A escola de hoje tem outra missão: a de construir o conhecimento – e aqui não me refiro apenas à teoria construtivista, mas ao sentido mais amplo que o verbo construir pode assumir – e formar cidadãos completos.
A dinâmica social do final do século XX e início do XXI é outra. A mulher não é mais o ser passivo, que ficava em casa à espera do marido e cuidando apenas dos afazeres domésticos e da educação dos filhos. A nova face da sociedade exige da mulher um papel economicamente ativo, o que a obriga a ficar menos tempo com os filhos. E esse pensamento não diz respeito apenas à mulher, mas à família como um todo. A participação da família no processo de socialização do indivíduo é menor hoje do que há décadas atrás.
A tarefa de transmitir valores foi transferida para a escola – outro importante agente de socialização, porém com novas características. Assim, não existe mais o professor, o transmissor de informações. Hoje existe o educador, e o profissional da educação que não aceita essa situação perdeu o trem da história. Educar não é apenas compartilhar conhecimentos. Educar é trabalhar arduamente na formação ética, moral e intelectual do educando, transformando-o de indivíduo em cidadão.
É certo que a maioria dos educadores estão cientes da amplitude de sua tarefa, mas até que ponto existem condições legais para o sucesso dessa empreitada?
Sem cair no velho discurso da inversão ou ausência de valores imposta pela sociedade e pela mídia, sabemos que nossas mãos estão atadas quando a tarefa é estabelecer limites – os limites do bom senso, do respeito ao próximo e da civilidade. Não se trata também do velho discurso que enfatiza as punições como forma de doutrinar a criança e o jovem; mais uma vez é importante lembrar que as coisas mudaram e que já não se acredita na eficiência de tais métodos, porém é preocupante o que se vê nas escolas.
É o grande dilema em que se encontram os educadores, vítimas de um sistema que prega a impunidade. Nem mesmo um sistema de “meritocracia” é possível aplicar, já que o sistema de progressão continuada foi deturpado até se transformar em promoção automática, em detrimento da qualidade de ensino. As crianças e adolescentes, competitivos por natureza, não encontram estímulo nem mesmo para obter boas notas.
Por outro lado encontramos docentes e gestores completamente perdidos diante de problemas graves que assolam as escolas, como a violência, a ausência de limites e o bullying. Não adianta querer maquiar a situação e dizer que tudo vai bem nas escolas e que essas situações são naturais.
Não são. É estado de patologia total, e o que fazer para contar essa onda nociva que contamina os jovens, se as ações esbarram em legislações que não educam, mas corrompem e transformam a escola numa instituição que não informa nem forma, mas deforma?
Documentos como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e similares são necessários, mas não podemos deixar que essa necessidade crie jovens isentos do senso de responsabilidade sobre os próprios atos. Há quem diga que nos próprios documentos existem instrumentos sócio-educativos para corrigir falhas e abusos, mas não vivemos no país das maravilhas e sabemos dos entraves que existem para que eles funcionem. Assim, educadores e gestores se tornaram reféns dessas legislações, e os jovens, que deveriam absorver valores e responsabilidades, passam a conviver e a crer na impunidade que impera nas instituições de ensino e, pior ainda, externam esse sentimento para além de seus muros, crendo piamente que nunca nada lhes acontecerá. É quando encontram a dura realidade das ruas, que apesar de tão presente nas escolas, não foi ensinada por elas.
Já passou do momento de refletir e discutir sobre tais questões, não porque se acredita numa política de punições, e sim porque a sociedade espera que a escola forme cidadãos honestos e cientes de seus deveres perante o outro. A civilidade e a responsabilidade civil deveriam ser incluídas nos currículos escolares, como fator de formação de um país digno de se viver.
A escola deve ser o local onde aprendemos e ensinamos a responsabilidade, e não a impunidade.

Douglas Fersan - Sociólogo e Educador.
19/05/2010.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Resumo dos autores para estudos pedagógicos 3: César Coll: O Construtivismo na Sala de Aula



O autor apresenta, nessa obra, os argumentos de uma criança aprovada na primeira série, aparentemente sem condições para isso, já que a mesma revelou dificuldades consideráveis ao longo do processo de alfabetização. A argumentação é um claro exemplo de construtivismo, passando por conceitos de Jean Piaget e de outros autores. Assim nos é dada uma ilustração para compreender como se dá o aprendizado sob a ótica construtivista.
A expressão “aprender é construir” sintetiza o pensamento de César Coll. A aprendizagem não deve ser entendida apenas como “absorção” de informação para reproduzi-las depois. A aprendizagem contribui para o desenvolvimento na medida em que aprender não é copiar ou reproduzir a realidade. Dentro da concepção construtivista, quando somos capazes de elaborar uma representação pessoal sobre um objeto da realidade ou conteúdo, é que realmente aprendemos.
Um aluno, ao ser questionado sobre como conseguira se aprovado, dando uma definição bem abrangente, que envolve desde a elaboração do processo até como conseguiu chegar ao final, dentro de sua sabedoria ingênua e simples, respondeu:
“É assim, Ó, eu fui fazendo, fazendo,
Eu fui tentando e aí eu consegui. (…)
Tem que ir ajeitando na minha cabeça,
Misturando com as outras coisas.”
É possível notar que essa criança conseguiu sintetizar com mestria, apesar da ingenuidade própria de sua faixa etária, o raciocínio que deve nortear a prática construtivista. Obviamente essa criança não utilizou um discurso lingüístico com diversidades de palavras que até pudessem fazer parte do seu vocabulário no cotidiano, mas, numa frase curta, ela englobou, de certo modo, toda uma visão de concepção que temos dificuldades para compreender e colocar em prática.

Douglas Fersan – Fevereiro de 2010

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Resumo dos autores para estudos pedagógicos 2: Hugo Assmann – Metáforas novas para reencantar a Educação – Epistemologia e Didática




Hugo Assmann é um teólogo católico, pioneiro da Teologia da Libertação no Brasil. Durante a ditadura militar se refugiou no Uruguai e mais tarde no Chile, de onde também que sair, após o golpe que derrubou o governo de Salvador Allende e implantou a ditadura do general Augusto Pinochet. Retornando ao Brasil, na década de 1980, foi professor titular de Filosofia da Educação e Comunicação na Universidade Metodista de Piracicaba.
Sua trajetória de vida ajuda a compreender sua obra, fortemente calcada no ecumenismo e pela interdisciplinaridade, versando sobre economia, ciências sociais, comunicação e pedagogia.

REENCANTAR é a palavra-chave para compreender a obra de Assmann, que ciente do cenário crítico em que se encontra a Educação brasileira (no que se refere a metodologias, técnicas e experiências criativas), propõe uma persistência nos processos de aprendizagem que enfatizem e despertem novidades estimulantes e fascinantes e motivações positivas (esse seria o ato de reencantar a Educação, estimulando e motivando o aluno).
Os constantes entraves ao longo do processo educativo produzem um sentimento negativo, criando aquilo que o autor qualifica como “apartheid neuronal”. O resultado disso é a inexistência de uma “ecologia cognitiva”: com o conhecimento e o aprender interagindo como ações inerentes desse movimento, o sistema (mercado) que promove as tendências de inclusão/exclusão deve dar lugar a uma relação onde homens e máquinas são partes integrantes desse processo, em prol do bem comum.

No processo educativo não deve haver lugar para a insensibilidade. O educador deve abrir caminho para “a explosão dos espaços de conhecimento, onde a Educação sai do mero discurso e promove a revitalização do tecido social e do conhecimento, com todos os valores a si inerentes.” A Educação carece de uma visão antropológica séria, a fim de propiciar uma lucidez política, ética e solidária, produzindo consensos políticos educacionais. É preciso ser criativo e se revestir de ternura, ciente de um compromisso de felicidade individual e coletiva. Nota-se aí, no pensamento do autor, uma visão de alteridade.

O seguinte trecho resume, de maneira bastante clara, a linha de raciocínio de Hugo Assmann: “Como o prazer e a ternura na educação passa pela experiência sensorial do corpo, a morfogênese do conhecimento tem que ser dinâmica, prazerosa e curativa, com uma pluri-sensualidade que passe pelo cérebro, pelas emoções, e se expresse no corpo. Assim, o monopólio da educação visual-auditiva dará lugar a uma educação instrutiva e criativa, cheia de encantamentos e acessível, comprometida com o social e centrada no prazer de aprender e ensinar, e onde a educação se reveste novamente de encantos”.


Douglas Fersan
Janeiro/2010

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Resumo dos autores para estudos pedagógicos 1: Marta Kohl de Oliveira - Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento; um processo sócio-histórico.



A autora apresenta nessa obra uma síntese das teorias de Vygotsky de forma bastante clara e objetiva. O principal foco de seu estudo é importância dada à cultura e a Linguagem na constituição do ser humano (nota-se aí a principal característica vygotskyana: a influência do meio social sobre a formação do indivíduo, nesse caso, através da linguagem). No entanto, as relações entre desenvolvimento e aprendizado, pensamento e linguagem e aspectos biológicos e culturais do funcionamento psicológico não são deixados de lado.

Para Vygotsky o aprendizado é resultado de um processo, ou seja, não nasce pronto ou previsto dentro do indivíduo, ele vai sendo construído através do processo de interação social (daí a importância da relação entre as pessoas, como parte da construção desse processo). Vygotsky viveu em meio às transformações sociais que abalaram a Rússia no início do século XX, o que marcou profundamente o seu pensamento e norteou suas teorias acerca da aprendizagem (conhecer o contexto histórico no qual Vygostsky viveu ajuda a lembrar a linha que norteia seu pensamento – forte influência do meio social sobre o processo de aprendizagem).

Marta Kohl Oliveira afirma que para Vygotsky as diferentes culturas produzem modos diversos de funcionamento psicológico (mais uma vez é possível perceber a importância do meio social sobre a formação intelectual do indivíduo). A influência do meio é tão grande, que diferentes culturas produzem diferentes formas de desenvolvimento.

Não é possível falar de Vygotsky sem falar de Zona de Desenvolvimento Proximal. Esse conceito, elaborado por Vygotsky define a distância entre a Zona de Desenvolvimento Real (a capacidade que o indivíduo tem de resolver questões com autonomia) e a Zona de Desenvolvimento Potencial (capacidade que a criança possui de resolver questões com a ajuda de um adulto ou companheiro mais avançado). Identificar esse momento (ZDP) é a tarefa do educador, que saberá então quando avançar ou estacionar seu trabalho, respeitando o momento do educando. Conhecer esse momento da criança é ajudá-la a superar as dificuldades, recuperando possíveis defasagens e auxiliando a a atingir suas áreas potenciais.

Douglas Fersan.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Perfil desejado para o professor de História





Ainda com o objetivo de auxiliar os educadores que irão prestar o concurso público para PEBII no estado de São Paulo, o blog Pensamento em Debate disponibiliza o perfil desejado para o professor de História e a bibliografia para as provas.

As indicações a seguir apresentam o perfil do profissional da Educação que se vislumbra para ensinar História nas escolas da rede pública de São Paulo. Quais os aspectos de sua formação a serem valorizados para identificar sua capacidade de ensinar História nos níveis Fundamental e Médio? Quais os conteúdos, inclusive teóricos, sobre os quais os professores devem mostrar conhecimento e familiaridade e que deverão ser aplicados – a partir de sua adequação - nas aulas da Educação Básica?
A partir dessas preocupações e reconhecendo - sem quaisquer compromissos com formas preconceituosas de hierarquização - as especificidades de cada nível de ensino, com suas características e objetivos próprios, sua elaboração foi assentada na estrutura curricular que orienta os cursos de graduação em História, especialmente aqueles oferecidos pelas Universidades públicas, haja vista o fato de que eles servem de modelo à maioria das instituições privadas. Com isto, pretende-se respeitar a formação dos professores, sem ampliar ou reduzir expectativas que possam comprometer os padrões de qualidade que deve ter a escola pública.

Habilidades do professor de História:

O professor está apto a:
1. Destacar características essenciais das relações de trabalho ao longo da história, reconhecendo a importância do trabalho humano na edificação dos contextos histórico-sociais e as características de suas diferentes formas na divisão temporal formal: pré-história, antiguidade, Idade Média, modernidade e contemporaneidade;
2. Identificar materiais que permitam observar as principais características das civilizações antigas quanto à organização da vida material e cultural, relevando questões centrais como o surgimento do Estado e as formas de sociedade e de religiosidade.
3. Demonstrar a importância de estudos sobre a história da África, identificando características essenciais do continente
4. Analisar as relações entre os processos da Revolução Industrial Inglesa e da Revolução Francesa e seu impacto sobre os empreendimentos coloniais europeus na América, África e Ásia.
5. Diferenciar singularidades do socialismo, do comunismo, do anarquismo e seus desdobramentos nos Estados nacionais liberais.
6. Conceber o processo histórico como ação coletiva de diferentes sujeitos reconhecendo os movimentos sociais rurais e urbanos como formas de resistência política, econômica e cultural ao ideário capitalista em suas várias fases.
7. Reconhecer as formas atuais das sociedades como resultado das lutas pelo poder entre as nações, compreendendo que a formação das instituições sociais é resultado de interações e conflitos de caráter econômico, político e cultural.
8. Reconhecer e analisar os acontecimentos desencadeadores das guerras mundiais, identificando as razões do desenvolvimento da supremacia dos Estados Unidos da América e do declínio da hegemonia européia.
9. Comparar as características dos regimes autocráticos europeus e as principais influências nazi-fascistas nos movimentos políticos brasileiros da década de 1930.
10. Identificar acontecimentos formadores do processo político na década de 1930 no Brasil em relação ao enfrentamento da crise de 1929 e suas consequências sobre os movimentos de trabalhadores da época. 18. Demonstrar as principais características do populismo no Brasil, especialmente as propostas que orientaram a política desenvolvimentista e o Golpe Militar de 1964.
11. Estabelecer comparações no contexto da Guerra Fria entre a situação política latino-americana e o Brasil e caracterizar os governos militares instalados no Brasil e, em países como o Chile e a Argentina, pela supressão das liberdades e pelos mecanismos utilizados pela repressão à oposição.
12. Identificar os principais movimentos de resistência aos governos militares na América Latina e o papel das Organizações Internacionais de Direitos Humanos.

Bibliografia para História
1. BITENCOURT, Circe Maria F. (org.). O saber histórico na sala de aula. 2 ed. São Paulo, Contexto, 1998.
2. BITENCOURT, Circe Maria F.. Ensino de História – fundamentos e métodos. 1ª Ed., São Paulo, Cortez, 2005.
3. BLOCH, Marc. Apologia da História - ou ofício do historiador. 1ª Ed., Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2002.
4. BURKE, Peter. O que é História Cultural? 1ª Ed., Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2005.
5. FAUSTO, Boris. História do Brasil. 13ª Ed. São Paulo: EDUSP, 2008
6. FERRO, Marc. A manipulação da história no ensino e nos meios de comunicação. A história dos dominados em todo o mundo. São Paulo: Ibasa, 1983.
7. FONSECA, Selva G . Didática e Prática de Ensino de História. Campinas, SP, Papirus, 2005.
8. FONSECA, Selva G. Caminhos da História Ensinada. Campinas, SP, Papirus, 2009
9. FUNARI, Pedro Paulo e SILVA, Glaydson José da. Teoria da História. São Paulo: Editora Brasiliense, 2008.
10. HERNANDEZ, Leila Leite. África na sala de aula – visita à história contemporânea. 2ª Ed., São Paulo, Selo Negro, 2008.
11. HEYWOOD, Linda M. (Org.). Diáspora negra no Brasil. São Paulo, Contexto, 2008.
12. KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo, Contexto, 2003.
13. LE GOFF, Jacques. História e Memória. 1ª Ed., Campinas, UNICAMP, 2003. (Capítulos indicados: “Memória”; “Documento/monumento”; “História”; “Passado/presente”).
14. PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Novos temas nas aulas de história. São Paulo: Contexto, 2009.
15. SOUZA, Marina de Melo. África e o Brasil Africano. 2ª Ed., São Paulo, Ática, 2007

Boa sorte a todos os amigos.
Por uma Educação de qualidade no estado de São Paulo.
Sem falsos educadores, sem demagogia e pela construção de uma escola ética e cidadã.

Douglas Fersan.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Construtivismo - Tema para estudo



Com o objetivo de oferecer ao educador material para reflexões a fim de contribuir para a sua formação continuada e com a finalidade de auxiliar os professores que participarão de processos seletivos em 2010, o blog Pensamento em Debate disponibilizará textos que poderão contribuir com os seus estudos. O primeiro texto é um resumo sobre construtivismo, mas em breve teremos outros temas para estudo.

A proposta do governo é baseada dentro da teoria construtivista. Sabendo sobre, haverá uma facilidade quanto a responder às questões, já que a maioria dos autores cobrados abordam o tema, porém cada um em uma área diferente. Percorrendo por alguns fóruns recolhi informações que me ajudaram a compreender melhor. Espero que possa contrituir de alguma forma.


A intenção do governo é que trabalhemos com a construção do conhecimento. A avaliação dos alunos deve ser contínua a fim de nortear as tomadas de decisão, as regulações necessárias e os ajustes.
Prevalecem questões de "como dar aula" - segundo obviamente a teoria construtivista.
Todos os autores falam a mesma coisa, baseiam-se na mesma teoria e cada um a aplica em um ramo da pedagogia: Lerner (dentro da sala de aula), Perrenoud (dentro da escola), Zabala (dentro do conteúdo da aula), Paulo Freire (dentro da formação do professor) e assim por diante.

A teoria construtivista está fundamentada nos seguintes teóricos: Vigotski (a formação da criança vem de fora para dentro - influência da sociedade sobre o desenvolvimento) e Piaget (a formação da criança é de dentro para fora) - influência do psicológico no desenvolvimento. Vale lembrar que Vigotski viveu sob os acontecimentos que influenciaram a Revolução Russa de 1917, dando ênfase, portanto à influência do meio social sobre o indivíduo, enquanto Piaget era biólogo. Assim fica mais fácil entender os diferentes olhares dos dois sobre a construção do conhecimento (apesar de falar em diferentes olhares, é bom lembrar que eles se complementam).
No construtivismo o professor não indica livros, instrumentos, métodos ou caminhos aos alunos, mas deixa que eles mesmos escolham. A iniciativa deve ser tanto da escola quanto do aluno. Os alunos com déficit de aprendizagem são respeitados, pois suas produções são feitas de acordo com a sua capacidade própria, não são impostas por alguém.
O professor não ensina, porém o aluno aprende e devido ao fato do professor não ensinar, o aluno não se frustra, pois a capacidade de aprender está dentro dele. O professor media a realização da tarefa do aluno forçando a realizá-la sozinho.
Flexibilidade - Adaptação - necessidade dos alunos - contar com o conhecimento do aluno - o aluno deve encontrar sentido no que está fazendo - ambiente de respeito e confiança - autoestima – autoconceito são palavras chaves do construtivismo.

"Construtivismo significa isto: a idéia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento.”
"Entendemos que construtivismo na Educação poderá ser a forma teórica ampla que reúna as várias tendências atuais do pensamento educacional. Tendências que têm em comum a insatisfação com um sistema educacional que teima (ideologia) em continuar essa forma particular de transmissão que é a Escola, que consiste em fazer repetir, recitar, aprender, ensinar o que já está pronto, em vez de fazer agir, operar, criar, construir a partir da realidade vivida por alunos e professores, isto é, pela sociedade – a próxima e, aos poucos, as distantes. A Educação deve ser um processo de construção de conhecimento ao qual ocorrem, em condição de complementaridade, por um lado, os alunos e professores e, por outro, os problemas sociais atuais e o conhecimento já construído (‘acervo cultural da Humanidade’)."
"Construtivismo, segundo pensamos, é esta forma de conceber o conhecimento: sua gênese e seu desenvolvimento – e, por conseqüência, um novo modo de ver o universo, a vida e o mundo das relações sociais."