quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Resumo dos autores para estudos pedagógicos 2: Hugo Assmann – Metáforas novas para reencantar a Educação – Epistemologia e Didática
Hugo Assmann é um teólogo católico, pioneiro da Teologia da Libertação no Brasil. Durante a ditadura militar se refugiou no Uruguai e mais tarde no Chile, de onde também que sair, após o golpe que derrubou o governo de Salvador Allende e implantou a ditadura do general Augusto Pinochet. Retornando ao Brasil, na década de 1980, foi professor titular de Filosofia da Educação e Comunicação na Universidade Metodista de Piracicaba.
Sua trajetória de vida ajuda a compreender sua obra, fortemente calcada no ecumenismo e pela interdisciplinaridade, versando sobre economia, ciências sociais, comunicação e pedagogia.
REENCANTAR é a palavra-chave para compreender a obra de Assmann, que ciente do cenário crítico em que se encontra a Educação brasileira (no que se refere a metodologias, técnicas e experiências criativas), propõe uma persistência nos processos de aprendizagem que enfatizem e despertem novidades estimulantes e fascinantes e motivações positivas (esse seria o ato de reencantar a Educação, estimulando e motivando o aluno).
Os constantes entraves ao longo do processo educativo produzem um sentimento negativo, criando aquilo que o autor qualifica como “apartheid neuronal”. O resultado disso é a inexistência de uma “ecologia cognitiva”: com o conhecimento e o aprender interagindo como ações inerentes desse movimento, o sistema (mercado) que promove as tendências de inclusão/exclusão deve dar lugar a uma relação onde homens e máquinas são partes integrantes desse processo, em prol do bem comum.
No processo educativo não deve haver lugar para a insensibilidade. O educador deve abrir caminho para “a explosão dos espaços de conhecimento, onde a Educação sai do mero discurso e promove a revitalização do tecido social e do conhecimento, com todos os valores a si inerentes.” A Educação carece de uma visão antropológica séria, a fim de propiciar uma lucidez política, ética e solidária, produzindo consensos políticos educacionais. É preciso ser criativo e se revestir de ternura, ciente de um compromisso de felicidade individual e coletiva. Nota-se aí, no pensamento do autor, uma visão de alteridade.
O seguinte trecho resume, de maneira bastante clara, a linha de raciocínio de Hugo Assmann: “Como o prazer e a ternura na educação passa pela experiência sensorial do corpo, a morfogênese do conhecimento tem que ser dinâmica, prazerosa e curativa, com uma pluri-sensualidade que passe pelo cérebro, pelas emoções, e se expresse no corpo. Assim, o monopólio da educação visual-auditiva dará lugar a uma educação instrutiva e criativa, cheia de encantamentos e acessível, comprometida com o social e centrada no prazer de aprender e ensinar, e onde a educação se reveste novamente de encantos”.
Douglas Fersan
Janeiro/2010
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Resumo dos autores para estudos pedagógicos 1: Marta Kohl de Oliveira - Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento; um processo sócio-histórico.
A autora apresenta nessa obra uma síntese das teorias de Vygotsky de forma bastante clara e objetiva. O principal foco de seu estudo é importância dada à cultura e a Linguagem na constituição do ser humano (nota-se aí a principal característica vygotskyana: a influência do meio social sobre a formação do indivíduo, nesse caso, através da linguagem). No entanto, as relações entre desenvolvimento e aprendizado, pensamento e linguagem e aspectos biológicos e culturais do funcionamento psicológico não são deixados de lado.
Para Vygotsky o aprendizado é resultado de um processo, ou seja, não nasce pronto ou previsto dentro do indivíduo, ele vai sendo construído através do processo de interação social (daí a importância da relação entre as pessoas, como parte da construção desse processo). Vygotsky viveu em meio às transformações sociais que abalaram a Rússia no início do século XX, o que marcou profundamente o seu pensamento e norteou suas teorias acerca da aprendizagem (conhecer o contexto histórico no qual Vygostsky viveu ajuda a lembrar a linha que norteia seu pensamento – forte influência do meio social sobre o processo de aprendizagem).
Marta Kohl Oliveira afirma que para Vygotsky as diferentes culturas produzem modos diversos de funcionamento psicológico (mais uma vez é possível perceber a importância do meio social sobre a formação intelectual do indivíduo). A influência do meio é tão grande, que diferentes culturas produzem diferentes formas de desenvolvimento.
Não é possível falar de Vygotsky sem falar de Zona de Desenvolvimento Proximal. Esse conceito, elaborado por Vygotsky define a distância entre a Zona de Desenvolvimento Real (a capacidade que o indivíduo tem de resolver questões com autonomia) e a Zona de Desenvolvimento Potencial (capacidade que a criança possui de resolver questões com a ajuda de um adulto ou companheiro mais avançado). Identificar esse momento (ZDP) é a tarefa do educador, que saberá então quando avançar ou estacionar seu trabalho, respeitando o momento do educando. Conhecer esse momento da criança é ajudá-la a superar as dificuldades, recuperando possíveis defasagens e auxiliando a a atingir suas áreas potenciais.
Douglas Fersan.
domingo, 10 de janeiro de 2010
Perfil desejado para o professor de História
Ainda com o objetivo de auxiliar os educadores que irão prestar o concurso público para PEBII no estado de São Paulo, o blog Pensamento em Debate disponibiliza o perfil desejado para o professor de História e a bibliografia para as provas.
As indicações a seguir apresentam o perfil do profissional da Educação que se vislumbra para ensinar História nas escolas da rede pública de São Paulo. Quais os aspectos de sua formação a serem valorizados para identificar sua capacidade de ensinar História nos níveis Fundamental e Médio? Quais os conteúdos, inclusive teóricos, sobre os quais os professores devem mostrar conhecimento e familiaridade e que deverão ser aplicados – a partir de sua adequação - nas aulas da Educação Básica?
A partir dessas preocupações e reconhecendo - sem quaisquer compromissos com formas preconceituosas de hierarquização - as especificidades de cada nível de ensino, com suas características e objetivos próprios, sua elaboração foi assentada na estrutura curricular que orienta os cursos de graduação em História, especialmente aqueles oferecidos pelas Universidades públicas, haja vista o fato de que eles servem de modelo à maioria das instituições privadas. Com isto, pretende-se respeitar a formação dos professores, sem ampliar ou reduzir expectativas que possam comprometer os padrões de qualidade que deve ter a escola pública.
Habilidades do professor de História:
O professor está apto a:
1. Destacar características essenciais das relações de trabalho ao longo da história, reconhecendo a importância do trabalho humano na edificação dos contextos histórico-sociais e as características de suas diferentes formas na divisão temporal formal: pré-história, antiguidade, Idade Média, modernidade e contemporaneidade;
2. Identificar materiais que permitam observar as principais características das civilizações antigas quanto à organização da vida material e cultural, relevando questões centrais como o surgimento do Estado e as formas de sociedade e de religiosidade.
3. Demonstrar a importância de estudos sobre a história da África, identificando características essenciais do continente
4. Analisar as relações entre os processos da Revolução Industrial Inglesa e da Revolução Francesa e seu impacto sobre os empreendimentos coloniais europeus na América, África e Ásia.
5. Diferenciar singularidades do socialismo, do comunismo, do anarquismo e seus desdobramentos nos Estados nacionais liberais.
6. Conceber o processo histórico como ação coletiva de diferentes sujeitos reconhecendo os movimentos sociais rurais e urbanos como formas de resistência política, econômica e cultural ao ideário capitalista em suas várias fases.
7. Reconhecer as formas atuais das sociedades como resultado das lutas pelo poder entre as nações, compreendendo que a formação das instituições sociais é resultado de interações e conflitos de caráter econômico, político e cultural.
8. Reconhecer e analisar os acontecimentos desencadeadores das guerras mundiais, identificando as razões do desenvolvimento da supremacia dos Estados Unidos da América e do declínio da hegemonia européia.
9. Comparar as características dos regimes autocráticos europeus e as principais influências nazi-fascistas nos movimentos políticos brasileiros da década de 1930.
10. Identificar acontecimentos formadores do processo político na década de 1930 no Brasil em relação ao enfrentamento da crise de 1929 e suas consequências sobre os movimentos de trabalhadores da época. 18. Demonstrar as principais características do populismo no Brasil, especialmente as propostas que orientaram a política desenvolvimentista e o Golpe Militar de 1964.
11. Estabelecer comparações no contexto da Guerra Fria entre a situação política latino-americana e o Brasil e caracterizar os governos militares instalados no Brasil e, em países como o Chile e a Argentina, pela supressão das liberdades e pelos mecanismos utilizados pela repressão à oposição.
12. Identificar os principais movimentos de resistência aos governos militares na América Latina e o papel das Organizações Internacionais de Direitos Humanos.
Bibliografia para História
1. BITENCOURT, Circe Maria F. (org.). O saber histórico na sala de aula. 2 ed. São Paulo, Contexto, 1998.
2. BITENCOURT, Circe Maria F.. Ensino de História – fundamentos e métodos. 1ª Ed., São Paulo, Cortez, 2005.
3. BLOCH, Marc. Apologia da História - ou ofício do historiador. 1ª Ed., Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2002.
4. BURKE, Peter. O que é História Cultural? 1ª Ed., Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2005.
5. FAUSTO, Boris. História do Brasil. 13ª Ed. São Paulo: EDUSP, 2008
6. FERRO, Marc. A manipulação da história no ensino e nos meios de comunicação. A história dos dominados em todo o mundo. São Paulo: Ibasa, 1983.
7. FONSECA, Selva G . Didática e Prática de Ensino de História. Campinas, SP, Papirus, 2005.
8. FONSECA, Selva G. Caminhos da História Ensinada. Campinas, SP, Papirus, 2009
9. FUNARI, Pedro Paulo e SILVA, Glaydson José da. Teoria da História. São Paulo: Editora Brasiliense, 2008.
10. HERNANDEZ, Leila Leite. África na sala de aula – visita à história contemporânea. 2ª Ed., São Paulo, Selo Negro, 2008.
11. HEYWOOD, Linda M. (Org.). Diáspora negra no Brasil. São Paulo, Contexto, 2008.
12. KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo, Contexto, 2003.
13. LE GOFF, Jacques. História e Memória. 1ª Ed., Campinas, UNICAMP, 2003. (Capítulos indicados: “Memória”; “Documento/monumento”; “História”; “Passado/presente”).
14. PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Novos temas nas aulas de história. São Paulo: Contexto, 2009.
15. SOUZA, Marina de Melo. África e o Brasil Africano. 2ª Ed., São Paulo, Ática, 2007
Boa sorte a todos os amigos.
Por uma Educação de qualidade no estado de São Paulo.
Sem falsos educadores, sem demagogia e pela construção de uma escola ética e cidadã.
Douglas Fersan.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Construtivismo - Tema para estudo
Com o objetivo de oferecer ao educador material para reflexões a fim de contribuir para a sua formação continuada e com a finalidade de auxiliar os professores que participarão de processos seletivos em 2010, o blog Pensamento em Debate disponibilizará textos que poderão contribuir com os seus estudos. O primeiro texto é um resumo sobre construtivismo, mas em breve teremos outros temas para estudo.
A proposta do governo é baseada dentro da teoria construtivista. Sabendo sobre, haverá uma facilidade quanto a responder às questões, já que a maioria dos autores cobrados abordam o tema, porém cada um em uma área diferente. Percorrendo por alguns fóruns recolhi informações que me ajudaram a compreender melhor. Espero que possa contrituir de alguma forma.
A intenção do governo é que trabalhemos com a construção do conhecimento. A avaliação dos alunos deve ser contínua a fim de nortear as tomadas de decisão, as regulações necessárias e os ajustes.
Prevalecem questões de "como dar aula" - segundo obviamente a teoria construtivista.
Todos os autores falam a mesma coisa, baseiam-se na mesma teoria e cada um a aplica em um ramo da pedagogia: Lerner (dentro da sala de aula), Perrenoud (dentro da escola), Zabala (dentro do conteúdo da aula), Paulo Freire (dentro da formação do professor) e assim por diante.
A teoria construtivista está fundamentada nos seguintes teóricos: Vigotski (a formação da criança vem de fora para dentro - influência da sociedade sobre o desenvolvimento) e Piaget (a formação da criança é de dentro para fora) - influência do psicológico no desenvolvimento. Vale lembrar que Vigotski viveu sob os acontecimentos que influenciaram a Revolução Russa de 1917, dando ênfase, portanto à influência do meio social sobre o indivíduo, enquanto Piaget era biólogo. Assim fica mais fácil entender os diferentes olhares dos dois sobre a construção do conhecimento (apesar de falar em diferentes olhares, é bom lembrar que eles se complementam).
No construtivismo o professor não indica livros, instrumentos, métodos ou caminhos aos alunos, mas deixa que eles mesmos escolham. A iniciativa deve ser tanto da escola quanto do aluno. Os alunos com déficit de aprendizagem são respeitados, pois suas produções são feitas de acordo com a sua capacidade própria, não são impostas por alguém.
O professor não ensina, porém o aluno aprende e devido ao fato do professor não ensinar, o aluno não se frustra, pois a capacidade de aprender está dentro dele. O professor media a realização da tarefa do aluno forçando a realizá-la sozinho.
Flexibilidade - Adaptação - necessidade dos alunos - contar com o conhecimento do aluno - o aluno deve encontrar sentido no que está fazendo - ambiente de respeito e confiança - autoestima – autoconceito são palavras chaves do construtivismo.
"Construtivismo significa isto: a idéia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento.”
"Entendemos que construtivismo na Educação poderá ser a forma teórica ampla que reúna as várias tendências atuais do pensamento educacional. Tendências que têm em comum a insatisfação com um sistema educacional que teima (ideologia) em continuar essa forma particular de transmissão que é a Escola, que consiste em fazer repetir, recitar, aprender, ensinar o que já está pronto, em vez de fazer agir, operar, criar, construir a partir da realidade vivida por alunos e professores, isto é, pela sociedade – a próxima e, aos poucos, as distantes. A Educação deve ser um processo de construção de conhecimento ao qual ocorrem, em condição de complementaridade, por um lado, os alunos e professores e, por outro, os problemas sociais atuais e o conhecimento já construído (‘acervo cultural da Humanidade’)."
"Construtivismo, segundo pensamos, é esta forma de conceber o conhecimento: sua gênese e seu desenvolvimento – e, por conseqüência, um novo modo de ver o universo, a vida e o mundo das relações sociais."
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